domingo, 21 de setembro de 2008

Onyx e a causa farrapa

O candidato Onyx Lorenzoni aparece nas pesquisas com modestos 5% das intenções de voto para a prefeitura de Porto Alegre. Esse fato, sem dúvida, retumba como auspicioso.

O partido de Onyx não é relevante (nem para mim e nem para ele), importa que esses 5% denotam a maturidade eleitoral do povo da capital gaúcha. Também não vem ao caso quem está em primeiro lugar na corrida eleitoral daquela cidade, importa que Onyx é o típico político/ator/demagogo cujo único conteúdo notável é a ambição por um dia ser Presidente da República. Apesar da intensa campanha eleitoral e das inúmeras aparições pirotécnicas na cena política, o povo o ignora.

Há tempos eu não tinha notícia de um fato que relembrasse o vanguardismo do pensamento político gaúcho. No caso dos parcos 5%, a inovação está na imunização da sociedade contra males como Onyx Lorenzoni e a politicagem para inglês ver.

Concomitantemente à divulgação dos 5%, o Rio Grande do Sul comemora a Revolução Farroupilha, uma longa guerra de gaúchos contra os regentes do império, ocorrida em meados do século 19. Na ocasião, os revolucionários estavam descontentes com a situação político-econômica. Apesar de ter objetivos separatistas, a alma da revolução eram as modernas idéias republicanas.

A partir de então tivemos vários outros exemplos da efervescência de idéias políticas no sul do país e de experimentações, ainda que algumas vezes desastrosas.

Enfim, salve os 5% de Onyx e a maturidade política do povo de Porto Alegre.

domingo, 14 de setembro de 2008

O Político, o Bandido e Homer Simpson

O carioca Armando Canosa, 47 anos, é conhecido no subúrbio onde mora simplesmente por "Cabelo".

Cabelo possui uma frota de táxis e vans ilegais. Vivem desse negócio sua mulher e quatro filhos, bem como cada um dos 12 motoristas e suas respectivas famílias. Ou seja, são aproximadamente cinqüenta pessoas, a maioria em idade eleitoral, vivendo do crime.

Tais pessoas votariam em um candidato a prefeito que prometesse acabar com as vans clandestinas?

Os homens que sonharam e projetaram a democracia imaginaram um sistema de governo em que a cúpula do poder fosse formada por representantes do povo. O sistema funcionou exatamente conforme o esperado. E o clã de Mister Cabelo, agraciado com o direito ao voto, lamentavelmente elegerá um representante a sua altura. Se tivermos uma boa parcela da população garantindo seu sustento através do crime, essas pessoas escolherão representantes afins, ou que pelo menos sejam coniventes com seus objetivos.

Acabo de ler que quatro dos candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro já assinaram um termo de compromisso com as entidades marginais de "transporte alternativo". Esse termo aliviaria da fiscalização pública "empresas" como a de Cabelo.

Que situação ridícula!!! A cidade maravilhosa já é motivo de chacota no mundo inteiro por conta do transporte ilegal. Quem não lembra do episódio dos Simpsons que se passou no Rio, com Homer sendo assaltado após tomar "unlicensed taxi"??

À época, este episódio motivou aborrecida carta oficial do nosso presidente para o dos EUA. E hoje, que ironia... O termo de compromisso dos candidatos do Rio – um novo documento oficial – legitima o que outrora fora chacota nos Simpsons. Além de garantir, é claro, uma vantagem considerável de votos aos candidatos e a comida na mesa da família de Cabelo.