terça-feira, 20 de novembro de 2007

Tenho vergonha da minha Louis Vuitton

Fui gentilmente presenteada por amigos que voltavam da Europa com uma bolsa Louis Vuitton. Usei e abusei do presente por algum tempo mas, confesso, o que outrora me envaidecia, agora me constrange.

O constrangimento não surge por poder encontrar adolescentes com uma Louis Vuitton idêntica à minha caminhando pela rua. A origem do desconforto é a possibilidade de poder ser apontada como usuária de um produto pirata – ainda que a minha bolsa não seja. Enfim, tenho tido dificuldade em conseguir deixar minha LV à vista, sem que isso me cause embaraço.

O interessante é que a Louis Vuitton, bem como as demais grandes grifes, não estão assim, desconfortáveis, como eu. Afinal, essas inúmeras réplicas piratas que inundam o mercado popular acabam auxiliando no marketing da empresa, na propagação da marca.

Importante! O público alvo de grandes grifes não é a garotinha que pede dinheiro emprestado ao pai e compra sua bolsa de “grife” para utilizar numa duvidosa combinação com tênis e boné virado. Todavia, a indústria da pirataria acaba impulsionando os rendimentos das grandes marcas de moda. Ela é a motivadora na compra de um novo produto, original e livre dos camelôs por algum tempo.

Vale lembrar que, por melhor que seja a cópia, a indústria da pirataria é tecnicamente incapaz de ter time-to-market para lançar modelos e sair à frente de uma Louis Vuitton, por exemplo. O pirata se limita a copiar aquilo que está sendo ou já foi moda. Assim, a pirataria é a mola que impulsiona a venda de lançamentos das grandes grifes. O “sentir vergonha” da peça que já é vendida em camelô é que faz com que a cliente queira renovar seu guarda-roupa e comprar, para seu deleite, uma peça que ainda é livre de imitações.

Enquanto isso, deixo minha Louis Vuitton repousando no armário e saio com a minha "Datellizinha", humilde, porém compatriota e menos visada.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A verdade incoveniente de Cristovam Buarque

Os dois foram candidatos a presidente. Os dois têm o hábito de bater sempre na mesma tecla. Já foram, ou ainda são, senadores ditos democratas. Mas qual a diferença básica entre eles? É fácil. O dinheiro investido em Al Gore fez com que ele conseguisse a proeza de ser inconveniente sem ser chato. Por outro lado, sem holofotes, sem investimentos expressivos e sem um mome pomposo, Buarque acba sendo vitimado pelo rótulo de chato, repetitivo, inconveniente.

“Crematório de Cérebros”, artigo escrito pelo senador e publicado no jornal O Globo, apresenta um trecho inconveniente, verdadeiro e, como não foi proferido por um ex-BBB mal educado, é chato:

“...basta olhar a cara da escola pública no presente para ver a cara do País no futuro. Apesar de nossos quase 200 milhões de cérebros, o quinto maior potencial intelectual do mundo, o Brasil continuará a ser um país periférico na produção de conhecimento.”

Não sou de botar a mão no fogo por político, mas digo, com alguma margem de certeza, que se promoção pessoal estivesse em primeiro plano para Cristovam, ele escolheria outro tema para bandeirar. Ser chato, como ele mesmo já pôde vislumbrar, não costuma dar voto.

O Estado é ineficiente como um todo. A educação pública fugirá à regra? Se um futuro de sucesso para o Brasil depende da educação plena de seu povo, bom, então esse futuro depende de meia duzia de gladiadores, armados com estilingues, como Cristovam.

Atenção: Não votei em Cristovam Buarque, nem votaria. Não acho que ele deva ser presidente da República, senador, nem porta bandeira de partido político. Seu lugar é sob opulentos holofotes para que, assim como Gore, possa difundir seus ideais e passar a ser ouvido e respeitado, saindo detrás da carapuça da chatice. Se ele não emplacar, que algum garoto propaganda qualquer, louro, alto e isento, seja porta voz de suas idéias.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A Edessa de meio bilhão de dólares

É sabido que os Estados Unidos vêm construindo sua embaixada no Iraque. Embaixada talvez não seja a palavra mais indicada: trata-se de um pomposo pedaço de EUA dentro do Iraque. É uma obra gigantesca, com cifras assombrosas e, sem dúvida, com fins questionáveis. Que tipo de embaixada é essa em que as pessoas só ficam do lado de dentro? Ela pode ser utilizada para muitas coisas, mas fins diplomáticos ela não tem.

Com um pouco de lucidez histórica, podemos relembrar o tempo das cruzadas. Parece que a história se repete. Antes, cristãos europeus lutavam contra a resistência árabe para conquistar a terra santa, que consideravam sua por direito. Agora, nações cristãs ocidentais lideradas por um cristão – é... ele mesmo – lutam para propagar a democracia. Esses são, na verdade, os objetivos de fachada, politicamente corretos. A verdade é que, tanto no século 12 como agora, o objetivo das batalhas travadas contra o oriente é econômico. Outrora lucrava-se com a abertura de rotas, comércio, conquista de território. Agora, além do território, ganha-se com a conquista do petróleo... que os EUA consideram seu por direito.

Os exércitos ocidentais não atravessam os desertos em vão. Amparados pelo escudo da diplomacia e do cristianismo rumam, ontem e hoje, para o oriente movidos apenas por questões econômicas e expansionistas. Sim, a embaixada americana no Iraque é a Edessa do século 21.

A maior e mais cara embaixada já construída até agora pelos EUA, nada mais é do que a construção de um castelo para demarcar o território invadido, como outrora ocorrera com Edessa, Trípoli e Jerusalém com a chegada dos cavaleiros cruzados. É uma sucursal americana dentro do Iraque que, além de destoar totalmente da paisagem local, demonstra o perfil de “bunker”, uma vez que não há sequer um iraquiano trabalhando na obra. Se os fins fossem diplomáticos, creio que tudo seria bem diferente.

Para quem transitar ou trabalhar por lá, não haverá sequer problemas de adaptação. Há piscinas, restaurantes, salões de beleza, enfim, toda uma sorte de recursos ocidentais para que, se possível, ninguém precise sair e se arriscar a pisar o solo verdadeiramente iraquiano.