
O carioca Armando Canosa, 47 anos, é conhecido no subúrbio onde mora simplesmente por "Cabelo".
Cabelo possui uma frota de táxis e vans ilegais. Vivem desse negócio sua mulher e quatro filhos, bem como cada um dos 12 motoristas e suas respectivas famílias. Ou seja, são aproximadamente cinqüenta pessoas, a maioria em idade eleitoral, vivendo do crime.
Tais pessoas votariam em um candidato a prefeito que prometesse acabar com as vans clandestinas?
Os homens que sonharam e projetaram a democracia imaginaram um sistema de governo em que a cúpula do poder fosse formada por representantes do povo. O sistema funcionou exatamente conforme o esperado. E o clã de Mister Cabelo, agraciado com o direito ao voto, lamentavelmente elegerá um representante a sua altura. Se tivermos uma boa parcela da população garantindo seu sustento através do crime, essas pessoas escolherão representantes afins, ou que pelo menos sejam coniventes com seus objetivos.
Acabo de ler que quatro dos candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro já assinaram um termo de compromisso com as entidades marginais de "transporte alternativo". Esse termo aliviaria da fiscalização pública "empresas" como a de Cabelo.
Que situação ridícula!!! A cidade maravilhosa já é motivo de chacota no mundo inteiro por conta do transporte ilegal. Quem não lembra do episódio dos Simpsons que se passou no Rio, com Homer sendo assaltado após tomar "unlicensed taxi"??
À época, este episódio motivou aborrecida carta oficial do nosso presidente para o dos EUA. E hoje, que ironia... O termo de compromisso dos candidatos do Rio – um novo documento oficial – legitima o que outrora fora chacota nos Simpsons. Além de garantir, é claro, uma vantagem considerável de votos aos candidatos e a comida na mesa da família de Cabelo.