terça-feira, 23 de outubro de 2007

Dependente químico: vítima ou algoz?

Tropa de Elite é o assunto em voga nos últimos dias... Capas de revistas, denúncias de pirataria e todo o blá blá blá que acompanha uma estréia aguardada.

Uma das sacadas do filme, que vêm sendo fomentada com exegero pela mídia, é a sugestão de culpa da sociedade pelo tráfico de narcóticos, na figura de seus dependentes químicos. Ou seja, todos somos suspeitos de crime, eu, seus vizinhos, seus amigos e, nem pense em escapar dessa, a culpa pode ser sua também!!!

Eureka! Então podemos dizer que a solução de tudo é acabar com os drogados! Isso, vamos prender todos os dependentes químicos! Eu sabia...é culpa da classe média...de novo...ela deve estar querendo se vingar dos tributos obcenos que tem de pagar...ou do sofrimento nos aeroportos...

Ora, que ingenuidade pensar assim. Os alucinógenos fazem parte da cultura do ser humano desde os tempos idos. Não importa credo, nacionalidade ou cor, uma parcela das pessoas sempre terá tendência à drogadição.

Não quero isentar o consumidor final de droga de estar cometendo um crime. Comprar e portar essas substâncias é ilegal e ponto. Todavia, insinuar que a resolução ou causa do problema de violência nas perifierias está do lado do drogado, é cômodo demais! Uma família que já carrega o peso de ter um filho usuário de drogas, merece carregar ainda a culpa dos genocídios nas favelas? Afinal, será essa família vítima ou algoz?

Sejamos práticos. É utópico pensar que uma classe social com razoável poder econômico não vá gerar demanda de consumo de entorpecentes. Vale lembrar que até os índios, em sua organização tribal, consumiam drogas (que o diga Iracema, guardiã do segredo da Jurema).

A diferença fundamental é que os índios eram controlados pelo seu Estado – entenda-se aqui pajé -, já nós, por outro lado, estamos desprovidos de controle, punição, regulamentação. O nosso Estado está falhando. Deixou-nos abandonados à própria sorte!

Não podemos aliviar o governo da responsabilidade de resolver o problema, pois essa é fundamentalmente a sua função. Não é refinar petróleo, não é administrar aeroportos, não é usar dinheiro do contribuinte para pagar pensão... A função do Estado é zelar pelas suas crianças, educá-las para que prefiram um livro a uma AR15b; é usar de coerção; é estar presente nas favelas. Esse jogo de empurra empurra é cansativo e nojento. Já é chegada a hora de cada um assumir seus deveres e colocar as cargas de reponsabildade sobre os ombros certos.

4 comentários:

Pedro Mourão disse...

concordo plenamente com a sua opinião..é bom ter gente falando sobre isso...

o filme, por mais que diga que apenas mostrou um ponto de vista, também induz o público a compartilhar a visão do personagem cap. nascimento que acredita que o usuário é o principal vilão...o diretor pode não ser reacionário, isso é outra história, mas que o filme é, não há a menor dúvida

Palestino Revoltado disse...

Minha cara, realmente o problema da violência do tráfico não está apenas no consumidor final porém, ele também tem culpa nesse ciclo de violência. O nosso problema é sempre generalizar e colocar a culpa 100% de um lado da história quando todos em parcelas na maioria das vezes desiguais, têm culpa na história. Estamos desprovidos de um Estado presente porém a perda de valores da nossa sociedade, alimentada por um sistema capitalista louco por formar estilos e vendê-los para a sociedade, principalmente os jovens, faz com que os problemas ganhem contornos maiores. Não estou colocando a culpa toda nisso, apenas dando um exemplo que a culpa do problema pertence à diversos atores.

Diogo disse...

não há como negar que os responsáveis pelo tráfico são os consumidores, assim como não se omite que a responsabilidade acerca da pirataria é dos compradores de produtos piratas! não há relação comércial (de nenhum tipo) havendo somente vendedor! a questão primordial é definir quem é consumidor: se se diz que a classe média é responsável pelo tráfico é pq chegou-se à conclusão absurda de que só a classe média consome drogas, o que é inverdade, por óbvio! todas as classes consomem! até vou pesquisar estatísticas nesses sentido!
mas há uma coisa que não se pode olvidar, sob pena de sermos hipócritas (e o somos todos): as classes média e alta, por esclarecidas e por terem condições de fazer escolhas, são as mais responsáveis, SIM!! e seremos hipócritas mais uma vez, como sempre, se assim não encararmos!! se em outras países as classes média e alta fumam um baseado sem culpa, a nossa sociedade não nos permite isso, pois são gerações de seres humanos que são devastadas por esse comércio, o que não ocorre em países desenvolvidos!!

Dali disse...

Gostei de sua colocação.
O problema do Brasil (que enoja mesmo) é que a culpa pelos assassinatos, latrocínios, roubos e tráfico de drogas nunca é do assassino, ladrão ou traficante. A culpa é da sociedade, que além de pagar 40% de impostos e viver em cárcere privado, ainda é responsável pela própria morte. E isto ainda costuma ser dito por membros de uma classe privilegiada, como se ser pobre fosse sinônimo de ser criminoso e como se não houvesse nenhuma outra opção quando não se nasce com uma Hilux estacionada à porta...
Sim, usar drogas movimenta a máquina, mas quem costuma levar o tiro não faz parte dos usuários, mas pessoas escolhidas à esmo, vítimas de roubos feitos para impressionar ou presentear os traficantes. E tem uma trupe incrível que apóia os criminosos e os trata como vítimas(lógico que apóiam de longe, muito bem protegidos por blindados e condomínios)...